8 de julho de 2008

Humanidade tem até 2015 para cortar emissões...

Por Rodrigo Craveiro

O cronômetro do aquecimento global está prestes a parar e a humanidade precisa agir logo para evitar danos à economia e ao meio ambiente. De acordo com o cientista indiano Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e Prêmio Nobel da Paz em 2007, o mundo tem apenas sete anos para estabilizar as emissões de gases do efeito estufa a um nível considerado seguro. "Em 2015, as emissões atingirão o pico e terão de ser reduzidas obrigatoriamente", explicou Pachauri, em entrevista ao Correio, por telefone, de Abu Dhabi (Emiradores Árabes Unidos). "Se a temperatura média global aumentar dois graus Celsius em sete anos, teremos de começar a diminuir as emissões", alertou o especialista. Antes, o prazo estimado pelo IPCC expirava em 2020 - segundo o painel da Organização das Nações Unidas, os países industrializados precisariam cortar suas emissões entre 25 e 40 pontos percentuais para garantir a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

De acordo com Pachauri, o impacto do aquecimento global será "bastante grave", caso o mundo não consiga atingir a meta até 2015. "As conseqüências não serão imediatas, vão demandar um certo tempo, e incluem impactos na agricultura, nos recursos hídricos e na preservação da vida selvagem. As ondas de calor, secas e inundações, tudo isso se tornará mais sério", previu. O Nobel da Paz demonstra ceticismo sobre a possibilidade de os Estados Unidos negociarem um acordo ambiental efetivo, nos moldes do Protocolo de Kyoto. "Eu espero que isso ocorra, mas quem pode saber disso?", desconversou.

Pachauri defendeu ainda a liderança da União Européia (UE) nesse processo e admitiu que se mantém otimista. Antes de viajar ao Oriente Médio, o cientista se reuniu com ministros do bloco em Paris e fez um alerta. "Se a UE não liderar, temo que qualquer tentativa de fazer mudanças e de gerenciar o problema da mudança climática vai desmoronar", disse, naquela ocasião. "Vocês não conseguirão trazer outros países também."

Ceticismo

O dinamarquês Bjorn Lomborg, conhecido mundialmente como o "ambientalista cético", disse por telefone à reportagem que as previsões de Pachauri são surreais. "Não existe base científica para falarmos em um prazo de sete anos, 20 anos ou 40 anos", afirmou, acrescentando que as reduções das emissões dependem da exigência do nível de corte. "É totalmente improvável a redução de emissões em sete anos", avisou. Segundo ele, o mundo tem despejado cada vez mais gases do efeito estufa na atmosfera. "Isso ocorre porque especialmente os países subdesenvolvidos estão queimando mais combustíveis fósseis", acrescentou.

Lomborg defendeu que a humanidade precisa parar de se preocupar com a redução de emissões para apoiar as pesquisas e o desenvolvimento de tecnologias limpas, mais baratas e eficientes. "O IPCC nos alerta que enfrentaremos o aquecimento global, que veremos o aumento do nível do mar em até 59cm no fim do século, mas nenhum desses cenários assustadores é plausível", declarou. O dinamarquês admitiu que aterrorizar pessoas apenas estimula a tomada de decisões baseadas no pânico. E ele citou como exemplo o etanol brasileiro. "Ainda que o Brasil tenha a oportunidade de aumentar a produção de cana-de-açúcar e de etanol, acabará expandido o consumo de combustíveis fósseis, pelo simples motivo de eles serem ponte para a riqueza."

Ontem, representantes do setor de energia da União Européia cogitaram um acordo com o Brasil e se afastaram da polêmica meta de biocombustíveis do Velho Continente. Apesar de não terem realizado propostas de mudanças concretas para a legislação de biocombustíveis, os ministros do bloco afirmam que a UE falhou em comunicar seus planos para fazer com que 10% do combustível dos transportes terrestres venham de fontes renováveis, até 2020.

Fonte: Correio Braziliense graças ao Carbono Brasil.

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