Estudos realizados no âmbito do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) vêm demonstrando há anos que na Floresta Amazônica entra muito mais carbono do que sai. Agora sabe-se também que esse carbono seqüestrado é utilizado para manter a floresta em crescimento contínuo, desafiando a teoria clássica da ecologia sobre o clímax ecológico, pela qual um ecossistema maduro está em permanente equilíbrio – portanto, com biomassa constante.
A pesquisa mostra que manter a floresta em pé é importante não somente para não liberar mais carbono, mas também porque as matas estão limpando a atmosfera de gases de efeito estufa. Esse fator ressalta o papel das matas como prestadoras de serviços ambientais.
“Há cerca de dez anos percebemos, através das torres de fluxo de carbono instaladas acima da copa das árvores na Amazônia, que na maior parte havia seqüestro de carbono pela floresta. No entanto, a metodologia é relativamente recente e precisávamos de comprovação no terreno. A melhor delas é através de medidas biométricas, ou seja, acompanhar o crescimento das árvores, através do aumento dos troncos ano a ano em parcelas permanentes. Foi o que fizemos com os inventários da Rede Amazônica de Inventários e Levantamentos Florestais (Rainfor)”, conta o pesquisador Flávio Luizão, especialista em ciclos biogeoquímos (reciclagem de nutrientes), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
A Rede monitora mais de 200 parcelas permanentes em toda a Amazônia biológica, no Brasil e países vizinhos, algumas delas há mais de dez anos. E demonstrou que, apesar de índices diferentes conforme a região, a floresta continua crescendo e absorve, em média, entre 0,5 e 1 tonelada por hectare/ano de carbono. “É uma quantidade imensa sendo seqüestrada que, por enquanto, está anulando o carbono emitido pelas queimadas na região. Mas isso não significa que vai se manter assim. Se o ritmo de desmatamento acelerar, o quadro pode mudar”, diz Luizão.
Embora os estudos ainda não indiquem uma relação direta entre desmatamento e diminuição das chuvas (a não ser em pequena escala), o biólogo do Inpa ressalta que o desmatamento altera o regime de formação de chuva, o que deve interferir na sua distribuição, “o que já é grave o suficiente”, acredita. Além disso, existem limites para as quantidades de carbono que a floresta pode absorver para crescer, o que torna a criação de mecanismos de conservação tão emergencial.
Segundo o pesquisador, nas regiões mais chuvosas e com solos mais férteis o crescimento da floresta (e a conseqüente absorção de carbono) é muito maior do que na região sul da Amazônia, como o norte do Mato Grosso, onde o crescimento é muito baixo e, em alguns pontos, próximo de zero. “Atribuímos esse resultado às características dessas florestas, que estão em uma área de transição com o Cerrado, menos úmida por natureza”.
Além da quantidade de carbono na atmosfera e a extensão das estações secas, a qualidade do solo também parece ser importante para o aumento da biomassa da floresta. Isso acontece porque, ao fazer fotossíntese, a planta fixa carbono, mas para isso usa o gás carbônico da atmosfera, água e nutrientes do solo. Se o solo não é fértil, ela não tem capacidade de crescer e seqüestrar carbono.
O próximo passo da Rainfor, conforme Luizão, será investir no estudo da presença de carbono no solo, já que com o crescimento da floresta, uma maior quantidade de carbono pode estar sendo retida através da massa das raízes e do maior volume de matéria orgânica produzido.
Programado para durar quatro anos, o projeto deve ter início nos próximos meses e terá o pesquisador do Inpa como um dos líderes, já que vai coordenar no Brasil a análise de amostras de solo de toda a Amazônia.
Fonte: Clima em Revista
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