30 de novembro de 2007

"Kyoto não será suficiente", diz Nobel...

Ganhar um Nobel da Paz tem suas vantagens. Para Mohan Munasinghe, vice-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que ganhou o prêmio neste ano - junto do ex-vice-presidente americano Al Gore - a homenagem trouxe pelo menos três benefícios. "Conseguimos reconhecimento, credibilidade e poder de influência. Com o Nobel ficou mais fácil convencer as lideranças políticas e a população de que a ação humana no aquecimento global é um fato", diz.

Natural do Sri-Lanka, Munasinghe é autor de 85 livros sobre temas como energia e desenvolvimento sustentável. Hoje ele dará uma palestra sobre mudanças climáticas na EcoPower, conferência internacional sobre energias renováveis sediada em Florianópolis.

Com voz calma e tom professoral, Munasinghe se mostra cético em relação às chances de a humanidade refrear uma catástrofe climática e econômica. "Como cientista, é difícil falar sobre quando chegaremos a um ponto sem retorno no que tange ao aquecimento global. Mas se os níveis de CO2 na atmosfera ultrapassarem o limite de 450 partes por milhão (ppm), teremos problemas", afirmou.

Atualmente, o nível de gases de efeito estufa na atmosfera está em torno de 385 ppm - o nível adequado para manter a temperatura terrestre na casa dos 14°C seria 275 ppm. "Nos últimos 30 anos, as emissões de gases do efeito estufa aumentaram em 70%. Nossos níveis de CO2 estão muito próximos do limite", pondera.

O ceticismo do professor se revela também quando ele é perguntado se o Protocolo de Kyoto, o acordo global sobre mudanças climáticas, fracassou. "Apesar de Kyoto, as emissões de gases de efeito estufa aumentaram nos últimos dez anos. E nos próximos 30 anos, elas devem crescer de 50% a 100%", disse. "Kyoto é um pequeno passo, insuficiente para refrear o aquecimento global. As próximas negociações sobre clima terão que ser mais ambiciosas para evitarmos catástrofes", diz.

Um dos meios para se atingir o almejado desenvolvimento sustentável seria diminuir a dependência dos combustíveis fósseis. "Aumentar o consumo de energias renováveis para 5% ou 10% da matriz mundial seria o ideal", diz. Mas reconhece que é muito difícil livrar a humanidade do vício do petróleo e do carvão. "Não podemos impedir os países de usar carvão, já que é um recurso altamente disponível, com reservas para os próximos 200 anos. Mas podemos explorar isso de uma forma tecnologicamente mais limpa."

Andrea Vialli

O Estado de São Paulo

Nenhum comentário: