26 de novembro de 2007

A lenta recuperação da Amazônia...

Áreas abandonadas pela agricultura precisam de pelo menos 70 anos para recuperar seu ciclo original do nitrogênio e voltar a crescer.
Área de pastagem confrontando a floresta. Foto: Jeison T. Alflen

Um amplo estudo realizado por pesquisadores brasileiros e norte-americanos revela a dinâmica de recuperação das áreas da Amazônia que inicialmente foram desmatadas para dar lugar a plantações, mas acabaram sendo deixadas de lado pela agricultura. Segundo o trabalho, são necessários 70 anos para uma porção abandonada de floresta tropical restabelecer o ciclo do nitrogênio, essencial para a manutenção da biodiversidade nesse tipo de ecossistema, e voltar a crescer. Estima-se que entre 30 e 50% da área desmatada na Amazônia deixou de ser explorada e está se recuperando. As florestas tropicais costumam ser ricas em nitrogênio. No entanto, a agricultura reduz muito os níveis desse nutriente no solo.

Para compreender melhor esse processo, uma equipe de pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP), de Piracicaba, do Museu Paraense Emílio Goeldi e da Embrapa Amazônia Oriental (PA) estabeleceu o que chamam de cronosseqüência. Em fazendas nos municípios paraenses de São Francisco do Pará e de Capitão Poço, os cientistas delimitaram 12 lotes de mil m2 em áreas que haviam sido abandonadas por agricultores. Com a ajuda dos proprietários das terras, determinaram há quanto tempo cada área havia sido abandonada. Dessa forma, estabeleceram lotes em que a mata estava se recuperando há 3, 6, 10, 20, 40 e 70 anos, além de lotes de floresta nativa. “Nos lotes com 70 anos, o ciclo do nitrogênio já era semelhante, mas não igual, ao da floresta original”, diz Luiz Antonio Martinelli, do Cena, um dos autores do trabalho. “Se deixarmos o sistema em paz, ele se renova sozinho.”

Uma evidência dessa recuperação foi o aumento nas emissões de nitrogênio pelo solo, na forma do gás óxido nitroso (N2O). “Isso indica que, a partir do momento em que o sistema se torna rico em nitrogênio, ele se dá ao luxo de perder esse elemento na forma gasosa”, explica Martinelli. No entanto, o tempo mínimo de 70 anos para a recuperação de áreas desmatadas ainda é preocupante. Segundo Martinelli, o próximo passo é descobrir como intervir para reduzir esse prazo. O estudo contou ainda com a participação de Eric Davidson, do Centro de Pesquisa Woods Hole (EUA).

Revista Nature

Indicado por Eudes M.S. Alves

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