Da mesma forma que a extinção se dá em todos os níveis, a introdução de espécies afeta profundamente o meio ambiente. Desde espécies arbóreas exóticas, como a teca e animais de produção de grande porte, como os búfalos, passando pelas culturas anuais, como o café ou a soja, chegando também às comunidades microbianas, sob a forma de novos patógenos ou ainda de agrotóxicos, por exemplo. A conseqüência dessas duas intervenções são igualmente preocupantes e desconhecidas.
Observemos todas as etapas de queda de uma floresta: a derrubada de apenas uma árvore produz um efeito em cadeia semelhante, mantidas as devidas proporções, a uma bomba nuclear. Vários nichos são perdidos automaticamente, desde a vida que se sustenta no alto dos galhos, que possui um ecossistema próprio e único, até as interações que ocorrem ao nível do solo e necessitam tanto da sombra providencial quanto do substrato para sustentação.
Pensar na perda de um desses exemplos é alarmante, mas pensar que todos os mecanismos estão conectados e que a alimentação de todos componentes vivos das partes estão intimamente ligados, para ficar em um exemplo mais óbvio, nos dá uma atmosfera de desolação total. A queda daquela árvore representa agora a queda de dezenas, centenas ou milhares de nichos ecológicamente interligados. A queda de toda floresta amplifica de forma definitiva a tragédia.
Araras na região de Costa Marques/RO. Foto: Jeison T.Alflen
Mas, infelizmente, não para por ai. A introdução não apenas de outras espécies, mas de novas interações com o meio são como “um tiro no escuro” nas áreas deflagradas. A compactação produzida pela esteira do trator, o monóxido de carbono liberado pela combustão de seu motor são exemplos disso. De alguma forma, em maior ou menor grau, o meio ambiente está sendo afetado e incentivado a se manifestar e adaptar buscando novamente o equilíbrio. Isto não é de todo mal e é um dos fundamentos da seleção natural e da evolução. Entretanto, para que obtenha sucesso é necessário que o substrato básico se mantenha, e não é isso que temos observado na constante supressão de qualquer condição de suporte às espécies mais avançadas, restando, muitas vezes, substrato para proliferação apenas de microorganismos.A inserção de novas espécies animais, vegetais ou microbiológicas, da mesma forma que a retirada dos atores do ecossistema através da degradação de áreas nativas altera profundamente a relação entre as espécies, principalmente através da alimentação e refúgio. Assim como as espécies que não sucumbiram à violência da supressão da vegetação de um local buscarão novos habitats para viverem, novas espécies começarão a habitar o ecossistema impactado, causando descontrole de toda cadeia e conseqüente desequilíbrio ambiental.
Esquece o homem que é apenas mais uma espécie integrante desse mecanismo. Assim como agente fomentador de todo desequilíbrio, sofre com as adaptações promovidas pelo meio ambiente na desesperada luta para sobreviver. Se a mudança no comportamento da microfauna do solo não impressiona, alterações no regime de chuvas, para ficar novamente em um exemplo mais óbvio e veiculado, colocam o homem a par dos efeitos de suas ações.
Recentemente li em um artigo o desabafo de um produtor autuado e “injustiçado” que justificava toda degradação de nosso patrimônio ambiental como conseqüência do progresso. Teríamos que “ter paciência”. Na verdade, à medida que sentimos no dia a dia os efeitos de nossa interferência no planeta, estamos caminhando um passo em busca da correção da situação e, o que é mais importante, na construção de uma sociedade mais sustentável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário