13 de junho de 2008

A questão da antropização da Amazônia vai além da extinção de espécies...

Fronteira Rondônia/Mato Grosso. Foto: Jeison T.Alflen
A extinção de uma espécie é um fato cruel, porém nos constantes e famigerados desmatamentos aqui na Amazônia onde diversas espécies arbóreas podem vir a ser extintas, toda comunidade é atingida. Desde o seu nível mais elementar, como a comunidade bacteriana, ao maior dos animais que habita o ecossistema. Não bastasse a erradicação de espécies nativas, estimula-se a proliferação de espécies exóticas cujas conseqüências ao meio são, muitas vezes, desconhecidas.

Da mesma forma que a extinção se dá em todos os níveis, a introdução de espécies afeta profundamente o meio ambiente. Desde espécies arbóreas exóticas, como a teca e animais de produção de grande porte, como os búfalos, passando pelas culturas anuais, como o café ou a soja, chegando também às comunidades microbianas, sob a forma de novos patógenos ou ainda de agrotóxicos, por exemplo. A conseqüência dessas duas intervenções são igualmente preocupantes e desconhecidas.

Observemos todas as etapas de queda de uma floresta: a derrubada de apenas uma árvore produz um efeito em cadeia semelhante, mantidas as devidas proporções, a uma bomba nuclear. Vários nichos são perdidos automaticamente, desde a vida que se sustenta no alto dos galhos, que possui um ecossistema próprio e único, até as interações que ocorrem ao nível do solo e necessitam tanto da sombra providencial quanto do substrato para sustentação.

Pensar na perda de um desses exemplos é alarmante, mas pensar que todos os mecanismos estão conectados e que a alimentação de todos componentes vivos das partes estão intimamente ligados, para ficar em um exemplo mais óbvio, nos dá uma atmosfera de desolação total. A queda daquela árvore representa agora a queda de dezenas, centenas ou milhares de nichos ecológicamente interligados. A queda de toda floresta amplifica de forma definitiva a tragédia.

Araras na região de Costa Marques/RO. Foto: Jeison T.Alflen

Mas, infelizmente, não para por ai. A introdução não apenas de outras espécies, mas de novas interações com o meio são como “um tiro no escuro” nas áreas deflagradas. A compactação produzida pela esteira do trator, o monóxido de carbono liberado pela combustão de seu motor são exemplos disso. De alguma forma, em maior ou menor grau, o meio ambiente está sendo afetado e incentivado a se manifestar e adaptar buscando novamente o equilíbrio. Isto não é de todo mal e é um dos fundamentos da seleção natural e da evolução. Entretanto, para que obtenha sucesso é necessário que o substrato básico se mantenha, e não é isso que temos observado na constante supressão de qualquer condição de suporte às espécies mais avançadas, restando, muitas vezes, substrato para proliferação apenas de microorganismos.

A inserção de novas espécies animais, vegetais ou microbiológicas, da mesma forma que a retirada dos atores do ecossistema através da degradação de áreas nativas altera profundamente a relação entre as espécies, principalmente através da alimentação e refúgio. Assim como as espécies que não sucumbiram à violência da supressão da vegetação de um local buscarão novos habitats para viverem, novas espécies começarão a habitar o ecossistema impactado, causando descontrole de toda cadeia e conseqüente desequilíbrio ambiental.

Esquece o homem que é apenas mais uma espécie integrante desse mecanismo. Assim como agente fomentador de todo desequilíbrio, sofre com as adaptações promovidas pelo meio ambiente na desesperada luta para sobreviver. Se a mudança no comportamento da microfauna do solo não impressiona, alterações no regime de chuvas, para ficar novamente em um exemplo mais óbvio e veiculado, colocam o homem a par dos efeitos de suas ações.

Recentemente li em um artigo o desabafo de um produtor autuado e “injustiçado” que justificava toda degradação de nosso patrimônio ambiental como conseqüência do progresso. Teríamos que “ter paciência”. Na verdade, à medida que sentimos no dia a dia os efeitos de nossa interferência no planeta, estamos caminhando um passo em busca da correção da situação e, o que é mais importante, na construção de uma sociedade mais sustentável.

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